sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Vida

Minha vida é um livro queimado
As letras estão às cinzas
Capa não há
Conteúdo, ah, tem conteúdo, porém se confunde com a miragem enfumaçada
As letras estão tostadas, atrapalha vírgulas com travessão, ponto com ponto e vírgula...
...exclamação com interrogação.
A reticência, a fumaça levou, junto com as migalhas torradas da contracapa
Nunca, jamais, notaram a folha de rosto. Agora, é tarde, se tinha, queimou.
Quem, a momentos lembrara nada mais que a ficha de catalogação, esta não há mais, flutua, assim como o dorso, a frágil costura e os miolos.
Dá primeira à última, o que se tem são páginas grudadas, suadas, esfarrapadas. Algumas, até que intactas, mas sem o antes e o depois não se entende nada
Muitos são os olhos lacrimejantes na tentativa de decifrar, forçam, tentam, chegam perto e...
...Choram. Ou porque percebem que queimou, ou porque atingiu as pupilas a fumaça poluída.
Não se sabe mesmo pra onde o vento levou, a ele pertence o resto carbonizado.

Góes

soneto de separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente

Vinícius de Moraes

sábado, 31 de julho de 2010

A Saramago

Os bons morrem, os ruins também
Só que apenas os bons fazem falta

Morreu Saramago.
Nós. O povo, sentiremos sua falta,
Continuemos cegos, acorrentados, mas sua literatura sobressairá.
Continuemos presos em nossas próprias forças, mas a cada letra que lemos nos libertamos um pouco.
Continuemos suando, correndo, gritando esperançosos pelo liberdade
Clamando pelo dia da paz, da vida solidária.
E quando nós, o povo, nos libertarmos da cegueira branca.
Pode ter certeza que uma bandeira com seu nome e de outros guerreiros será erguida.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

O dia salvo

Quero falar sobre um ocorrido agora pouco. Segue o relato.

A manhã ainda era serena, zona leste, né? Banho rápido e preguiçoso, a bb ainda dormia, peguei no colo, joguei no carro, ainda tremendo de frio sentei no banco do carona. Valeu: - dei um beijo corrido na companheira, vuei pro trem.
Estação Dom Bosco, lotado, atrasado. No primeiro trem não deu pra entrar, o segundo pior, - puts, ferrô! Depois do quarto e quase uma hora, bora pra Guaianazes, pelo menos pego vazio sentido Luz.
Em Guaianazes,-suave! sentado, mas demorou pra caramba. Enfim Luz. Mais meia hora a espera do busão, Alto da Lapa. -Cheguei.
Vou de elevador, que preguiça. Subo, subo, não sobe tanto assim, são apenas dois andares.
Cheguei galera, salve e beijos pra todos e todas. Sentei na cadeira em frente ao micro. - puts, essa é minha maneira de reclamar de algo. - Que papel é esse? - deixaram pra você, responde a amiga.
Começo a ler, no início sem muita vontade, termino todo arrepiado e com água nos olhos. O título é LITER-rua, impresso do site da Caros Amigos. O começo do dia foi salvo.