sábado, 9 de fevereiro de 2019

Nego boy e a morte do sonho futebol (por Góes)



Não é de hoje que o futebol mata os Jovens. A repulsa que Lima Barreto tinha pelo esporte revela o quanto este surgiu com o forte odor da exclusão e assim o é até hoje. Quantos jovens pretos não morreram com o sonho de ao menos ver um jogo. Quantas meninas tiveram sua vontade sufocada pelo argumento de que, futebol é para homens.

Assim, desde que a pelota começou a rolar nos campos modernos sonhos foram ofuscados. Dentro ou fora dos estádios pessoas foram e são arremessadas ao além.
Torcedores jaz por amor ao time: Damião morreu do coração no dia da final, quando seu time entrou em campo, os rojões, seu coração parou no último estalar; Alexandre cometeu suicídio. Numa carta encontrada na cama lê-se: meu time está para ser rebaixado, não...; uma briga no Metrô, o saldo foi de quatro jovens mortos, muitas outras brigas, muitos outros mortos; o cara chegou bêbado em casa, saiu cedo para jogar futebol: ganhou, bebeu, cheirou. Em casa espancou a mulher até o óbito.

Dentro do gramado também se morre: Serginho, Vivien Fóe, muitos outros. Mas o futebol mata mais fora do gramado.

Nego boy, jovem habilidoso. Sonho: ser jogador profissional; escolaridade: Ensino Fundamental. Causa da morte: insuficiência cardíaca provocada por uso de drogas. Já perdera um braço ao cair bêbado do trem, vivia chutando tudo que era redondo. Depois de passar por vários clubes e ver seu sonho ir para o ralo do vestiário, resolveu narrar seus próprios gols. Na insanidade chegou à seleção dos moribundos, morreu. 

Nego Boy sonhava em jogar no Corinthians; Neguitinho, no Santos; Nego Bel estava certo que vestiria a camisa do São Paulo; Nego, a do Palmeiras; Dener jogou na Portuguesa. Nenhum sobreviveu à exclusão que é o futebol.

Mesmo na solidão da falsa inclusão, jovens quando não acordam sufocados pelo estupro, pela fome, pela amargura do banco de reserva ou as vaias por gols perdidos, talvez sonhando com a copa foram sufocados pela fumaça dos charutos caros dos empresários, dos fabricantes de sinalizadores, dos cachimbos das guerras dos dirigentes.

Nesse esporte quem vive mesmo é o lucro. Quantos "Negos" sofreram o pesadelo de sonhar jogar bola. O futebol mata quem o sonha.