Não é de hoje que o futebol mata os
Jovens. A repulsa que Lima Barreto tinha pelo esporte revela o quanto este
surgiu com o forte odor da exclusão e assim o é até hoje. Quantos jovens pretos
não morreram com o sonho de ao menos ver um jogo. Quantas meninas tiveram sua
vontade sufocada pelo argumento de que, futebol é para homens.
Assim, desde que a pelota começou a
rolar nos campos modernos sonhos foram ofuscados. Dentro ou fora dos estádios
pessoas foram e são arremessadas ao além.
Torcedores jaz por amor ao time:
Damião morreu do coração no dia da final, quando seu time entrou em campo, os
rojões, seu coração parou no último estalar; Alexandre cometeu suicídio. Numa
carta encontrada na cama lê-se: meu time está para ser rebaixado, não...; uma
briga no Metrô, o saldo foi de quatro jovens mortos, muitas outras brigas,
muitos outros mortos; o cara chegou bêbado em casa, saiu cedo para jogar
futebol: ganhou, bebeu, cheirou. Em casa espancou a mulher até o óbito.
Dentro do gramado também se morre:
Serginho, Vivien Fóe, muitos outros. Mas o futebol mata mais fora do gramado.
Nego boy, jovem habilidoso. Sonho:
ser jogador profissional; escolaridade: Ensino Fundamental. Causa da morte:
insuficiência cardíaca provocada por uso de drogas. Já perdera um braço ao cair
bêbado do trem, vivia chutando tudo que era redondo. Depois de passar por
vários clubes e ver seu sonho ir para o ralo do vestiário, resolveu narrar seus
próprios gols. Na insanidade chegou à seleção dos moribundos, morreu.
Nego Boy sonhava em jogar no
Corinthians; Neguitinho, no Santos; Nego Bel estava certo que vestiria a camisa
do São Paulo; Nego, a do Palmeiras; Dener jogou na Portuguesa. Nenhum
sobreviveu à exclusão que é o futebol.
Mesmo na solidão da falsa inclusão,
jovens quando não acordam sufocados pelo estupro, pela fome, pela amargura do
banco de reserva ou as vaias por gols perdidos, talvez sonhando com a copa
foram sufocados pela fumaça dos charutos caros dos empresários, dos fabricantes
de sinalizadores, dos cachimbos das guerras dos dirigentes.
Nesse esporte quem vive mesmo é o
lucro. Quantos "Negos" sofreram o pesadelo de sonhar jogar bola.
O futebol mata quem o sonha.